sábado, 30 de maio de 2015

Missões - Foz do Iguaçu - Parte 4

Quando acordamos pela manhã, fomos presenteados com um delicioso mate amargo e mais algumas bolachinhas deliciosas!
Aproveitamos para bater mais um bom papo com nossos hermanos e tiramos algumas fotos com a família antes de nos despedirmos.
Desmontamos acampamento e caímos na estrada debaixo de mais um dia de forte sol logo pela manhã. Nossa rota agora seria ir até a Ruta 12, a principal rodovias da Argentina, que liga Foz do Iguaçu à Argentina, por isto, sabíamos que seria bem movimentada!





Chegamos até a cidade de Santa Ana, onde cairíamos na Ruta 12. Antes de encará-la, resolvemos encaram um bom lanche num posto de gasolina. Quando estávamos estacionando nossas bikes, encontramos um padre brasileiro que veio conversar conosco.
Padre Ivo era seu nome, e contamos a ele que estávamos percorrendo a rota das Missões e dali iriamos para a cidade de Posadas, uma grande cidade do norte argentino. Ele não  pestanejou em nos dar algumas dicas e informações sobre as missões, afinal ele era um padre jesuíta. Disse-nos que não poderíamos deixar de conhecer a cidade de San Ignácio. Mas para ir a esta cidade, precisávamos mudar nosso roteiro, e não iríamos mais para Posadas e não conseguiríamos entrar no Paraguai. Ele então nos contou que poderíamos ir até San Ignacio e depois entrar no Paraguai pela cidade de Corpus Christi, onde haveria uma balsa para atravessar o Rio Paraná.
Agradecemos ao padre o nos despedimos, depois disto pesquisamos um pouco na internet sobre San Ignacio e se valeria a pena ir para lá. Em pouco tempo de pesquisa vimos que valeria muito a pena sim! O lugar tinhas mais ruínas e mais preservadas que em São Miguel das Missões!

Pegamos a Ruta 12, mas agora sentido norte, rumo a San Igancio!
Já no início, a estrada mostrou-nos todos os seus perigos. Muitos caminhões e ônibus rodavam em alta velocidade numa rodovia sem acostamento na maior parte do trajeto! Mas como seriam apenas uns 20 quilômetros até San Ignacio e depois mais uns 20 até Corpus, rodando pela Ruta 12, resolvemos encarar.

Chegando em San Ignacio fomos logo procurar as ruínas da cidade. Não foi nada difícil encontrar, afinal era o principal atrativo turístico da cidade. Chegando lá, advinha quem estava na portaria do parque esperando pela gente? O padre Ivo!!! Conversamos mais um pouco com ele e fomos entrar no parque, mas quando vimos o preço da entrada, quase caímos duro!!! Teríamos de pagar 80 pesos por pessoa para entrar e não tínhamos este dinheiro no bolso em moeda local e o parque não aceitava nosso querido real. O padre viu nossa situação e disse que queria dar-nos um presente, já que eramos missioneiros. Ele pagou nossas duas entradas e ainda entrou conosco para ser nosso guia turístico do parque! Ele pediu até para tirarmos até uma "selfie" com ele.




O parque era realmente incrível, e muito mais bonito e mais preservado que as ruínas brasileiras. A cada passo o padre is nos explicando sobre a história e a cultura daquele lugar.
Algo engraçado que aconteceu no parque foi que quando estávamos na "praça" da colonia jesuíta, um quero-quero não gostou muito da nossa presença e deu um rasante pra nos atacar! Saímos correndo dele e com a Jé morrendo de medo.

Ainda dentro do parque nos despedimos do Padre Ivo e agradecemos imensamente pela ajuda que nos deu. Saindo do parque fomos comer algo antes de voltar pra estrada. Pedimos um sanduíche só para nós dois e um refrigerante bem gelado para espantar o calor. Depois de comer quase caímos de costas quando veio a conta: 100 pesos pelo lanche!!! Pelo menos depois desta aprendemos que deveríamos sempre perguntar o preço das coisas antes de pedir.










Depois da facada, pegamos a estrada de novo agora rumo à Corpus, para pegarmos a balsa e cruzar para o Paraguai! E mais uma vez passamos alguns apuros na Ruta 12, sem acostamento e com caminhões passando à mil! Mesmo depois de alguns sufocos pegamos uma estrada secundaria de aproximadamente 10 quilômetros que nos levaria a Corpus.
Chegando a Corpus, perguntamos a algumas senhoras na praça para que lado ficava a balsa que atravessava para o Paraguai, e a resposta dela nos deu arrepio com apenas uma palavra:
-Balsa???
E a outra senhora disse:
-Aquí no tiene mas balsa.
Sentimos aquele frio na espinha e paramos um pouco pra pensar.
A senhora nos disse ainda que haviam barcos de pescadores que poderiam nos levar para o outro lado se pagássemos, então resolvemos ir até lá para tentar cruzar o rio.

Pegamos uma estrada de terra de quase 5 quilômetros que nos levava numa descida infinita até o Rio Paraná. Chegando lá, havia uma guarita de policia de fronteira, mas estava fechada. Vimos um policial argentino e fomos falar com ele para ver como poderíamos atravessar o rio. Ele nos disse que há barqueiros ali que nos atravessariam, mas que a alfandega nos dois lados estava fechada e que só iria reabrir dentro de 5 dias, pois era final de semana e véspera de natal.
Nessa hora nossos planos haviam ido para o brejo, mas ficar chateados ou se desesperar não iria resolver nada, então pedimos para o policial para acampar na beira do rio, assim poderíamos pensar melhor e planejar o que seria melhor fazermos a partir de agora.

Nosso dia tinha sido cheio de altos e baixos, com muitas surpresas boas e ruins. Sabemos bem que cair na estrada de bike significa isso mesmo. Nem tudo é alegria, nem tudo são flores, nem sempre encontramos pessoas boas, dormimos nos melhores lugares ou comemos as melhores comidas. Mas essa é a parte boa da viagem, e é isso que dela ser uma aventura! O improvável é que faz a nossa alegria. Saímos de casa sem saber onde passaremos a próxima noite, onde iremos comer a próxima refeição ou com quem iremos conversar. Saímos de casa pra se aventurar e não apenas pra viajar!






Aproveitamos o lugar para lavar roupa no tanque de uma casinha velha onde morava um senhor que era meio surdo, pois ele ouvia radio num volume absurdo para uma pessoa sem problemas auditivos. E o engraçado não era isso, era que a radio que ele ouvia tocava músicas brasileiras que faziam sucesso a muito tempo atrás no Brasil, como é É o Tchan, Turma do Pagode, Tchacabum e muitas outras.

Quando o sol estava se pondo resolvemos dar uma caminhada pelo lugar e ver o sol se por nas águas do Rio Paraná. O lugar era lindo, as cores do sol refletindo nas águas nem se fala. E do outro lado do rio podíamos ver a flamula paraguaia balançando à brisa daquele lindo fim de tarde e sumindo na escuridão da noite. 

domingo, 18 de janeiro de 2015

Missões - Foz do Iguaçu - Parte 3

Acordamos muito bem depois da noite de descanso e tomamos aquele café da manhã delicioso do hotel enquanto batíamos um bom papo com a mãe da Andressinha!
O dia prometia ser mais um daqueles escaldante, com sol de rachar. Saímos cedo para evitar um pouco este sol forte e ainda no hotel nos informaram que teríamos de subir uma serra para chegar até Porto Xavier, cidade de fronteira com a Argentina. Serra que segundo eles, até os carros penavam pra subir.
Antes de sairmos, a dona do Hotel nos deu uma garrafa de dois litros de água congelada e como já de manhã o sol estava muito forte, dizíamos que aquela garrafa era nossa ostentação do dia (acho que o sol já começava a fazer mal pra nossas cabeças, hehehe).
Pela manhã tivemos paisagens incríveis para abrilhantar nossa pedalada. No início era a mesma estrada ruim do dia anterior, mas em poucos quilômetros chegamos a RS-392, com asfalto impecável e acostamento perfeito!







Sabíamos que estávamos perto da serra para subir, mas antes de chegar meu freio começou a fazer um barulho estranho. Era hora da primeira manutenção na bike! Trocamos as pastilhas de freio e tudo voltou ao normal!
Depois de uma longa reta avistamos a primeira placa que indicava longo trecho em aclive. Paramos para descansar um pouco antes de começar a subida, bebemos um pouco de água a partimos pra cima!
Esperávamos uma longa subida de muitos quilômetros, mas ela durou só três quilômetros e no fim acabamos dando risada da "subida que até os carros penava pra subir".
Após a subida veio uma boa descida que terminava na cidade de Porto Xavier, onde iríamos pegar uma balsa para entrarmos na Argentina.




Antes da balsa compramos alguns tomates e cebola para fazer o almoço do lado lado argentino, já que iríamos cruzar a balsa ainda pela manhã. Mas na fronteira, havia uma placa em espanhol dizendo que não era permitido cruzar com produtos de origem vegetal ou animal para a Argentina. O que acham que fizemos? Sim! Entramos ilegalmente na Argentina com produtos proibidos: uma cebola e dois tomates!
O que achamos um pouco caro foi o preço da balsa, custava R$10,00 para bicicletas e R$36,00 para carros, para fazer uma travessia que não dá metade da travessia Caiobá-Guaratuba! Mas tivemos que pagar e atravessamos!
Na alfandega argentina uma mulher extremamente chata e mal humorada nos atendeu e não se esforçou nenhum pouco pra nos ajudar a preencher a papelada. Ela era grossa e falava conosco tão rápido e tão grosseira que não entendíamos quase nada do que ela dizia. Depois de um bom tempo de nervos a flor da pele dela e da Jé, conseguimos entrar no país dos hermanos!
No início tudo era novo, placas e letreiros em espanhol, moeda diferente, custo das coisas diferente. Para mim era muito divertido estar em um lugar "estranho" mas para a Jéssica foi um pouco diferente, ela estava bastante receosa e com um pouco de medo de tudo, apesar de ela falar espanhol muito bem e muito melhor que eu!



Saindo da cidade de San Javier, começamos a procurar uma sobra para fazer almoço, mas estava difícil de encontrar. De repente passamos por um quartel do exército argentino, cheio de árvores e sombras chamativas!
Em frente ao quartel havia um tanque de guerra onde paramos para tirar umas fotos, quando do nada surge um cara com roupas militares! Era o Sargento Pires! Ele tirou fotos para nós em frente ao tanque e disse que poderíamos fazer almoço ali na sombra das árvores sim! E se alguém dissesse algo, era só falar que o Pires nos permitiu ficar ali!
Muitas pessoas passaram por ali e todos ficavam olhando com cara de curiosos, mas nenhum deles parou ou disse algo.
O sol estava fortíssimo desde a manhã, e a tarde o calor era ainda pior! Foi muito desgastante chegar à Leandro Além, e dali não iríamos passar naquele dia, pois o cansaço já batia forte!
Passamos por dois postos de gasolina e pedimos para acampar, mas nos dois o pedido nos foi negado. Algo que nunca nos aconteceu antes, pois postos de gasolina sempre tem caminhoneiros que dormem por ali e sempre somos muito bem recebidos nos postos brasileiros. Mas outro país, outra cultura.
A Jé já demonstrava muito cansaço e disse a ela pra não desanimar e ter fé que iriamos conseguir um lugar bem legal pra passar a noite! E aconteceu algo muito melhor que isso...





Nos afastamos um pouco da cidade de Leandro Além e quando encontramos uma casa parei para pedir água. Conversando um pouco mais com o dono da casa, contamos nossa história, que estávamos vindo do Brasil e iríamos para Foz do Iguaçu, que o calor estava muito forte e já estávamos bastante cansados. Então pedi a ele se havia algum lugar por ali onde poderíamos armar nossa barraca. A resposta foi a que mais gostaríamos de ouvir: "Podem montar a barraca no quintal de casa, tem um gramado ótimo ali pra vocês!"
Os donos da casa se chamavam Carlos e Norma. Eles moravam com mais um filho e a mãe de Carlos, uma senhora de uma simpatia sem igual! Ela aparentava já ter mais de 80 anos, caminhava com um pouco de dificuldade, mas fazia de tudo pela casa! Ela nos deu bolachinhas de natal que ela mesmo preparou, uma delícia sem igual! Passamos algumas horas conversando com ela sobre vários assuntos diferentes!
Carlos e Norma eram um casal muito bacana. Pudemos desfrutar de boas conversas e um ótimo mate amargo (que a Jé achou amargo demais!).
Tivemos uma noite maravilhosa de descanso, e pela manhã, mais mate amargo! Eles não tem costume de tomar café, apenas o mate! 
Pela manhã, a mãe do Carlos disse que estava triste por termos dormido na barraca, ela disse que deveríamos ter dormido dentro da casa deles. Olha que amor de pessoa aquela senhora! Tem coisas que só uma viagem de bicicleta nos faz viver mesmo!





quarta-feira, 7 de janeiro de 2015

Missões - Foz do Iguaçu - Parte 2

Depois de uma noite com uma baita chuva e ventos que pareciam que iriam levar a barraca voando, levantamos cedo, antes dos turistas chegarem, para desocupar o centro de visitantes.
Agradecemos aos vigias noturnos que nos permitiram dormir por ali e partimos para a estrada, já que a chuva tinha dado uma trégua pela manhã.





Nosso primeiro objetivo era voltar para a rodovia principal, onde havíamos pedalado no dia anterior. Eram quase 20km até a rodovia e o tempo estava fechado, mas sem chuva. Quando estávamos a uns 500 metros da rodovia, bem próximo ao portal, a chuva apareceu com uma força terrível acompanhada de uma ventania muito forte!
Corremos para debaixo do portal para se esconder da chuva e ali ficamos por um tempo. Como a chuva não parava e a cerca de 500 metros havia um posto de gasolina, decidimos colocar as capas de chuva e encara-la até o posto! 
Quando fomos colocar as capas, a Jé viu que a dela estava com o zíper quebrado. Na verdade as capas de chuva foram lavadas antes de viajarmos e provavelmente nossa cachorra Kiwi comeu o zíper da capa da Jé. Mas nada de preocupações, pois nosso instinto MacGiver brotou e resolvemos o problema com abraçadeiras de plástico.
Chegamos no posto de gasolina ensopados, mesmo com as capas de chuva!




Ficamos no posto por um longo tempo, esperando a chuva passar, mas a chuva não passava e quando ela deu uma pequena diminuída, decidimos sair com as capas de chuva. A chuva durou por muitas horas de pedalada, mas depois do calor que fez no dia anterior, era uma benção pedalar com a chuva refrescante.
Pedalamos pela rodovia principal até a cidade de São Luiz Gonzaga, onde pegamos uma estrada secundária que nos levaria até a Roque Gonzales.
A estrada era horrível! Cheia de buracos pelo asfalto e sem acostamento. Mas pelo menos o transito era moderado e quase não passavam caminhões.
Os campos de soja e milho tomavam conta da paisagem e em uma dessas plantações até roubamos algumas espigas para comer pelo caminho.





Chegamos na cidade de Roque Gonzales no fim da tarde, molhados e imundos!
Decidimos então procurar um hotelzinho barato pela cidade.
Encontramos um hotel e uma surpresa ainda nos esperava por lá.
Quando chegamos na cidade, ela parecia deserta. Quase não haviam pessoas na rua e em quase todos os lugares de comercio as pessoas estavam vendo televisão. Em pouco tempo descobrimos que estavam todos assistindo a final do campeonato de futebol feminino entre Brasil e EUA.
A meia atacante da seleção Andressinha era da cidade de Roque Gonzales e o hotel onde estávamos era dos pais da Andressinha, Adriana e Elizeu. A cidade inteira estava parada para assistir o jogo e ver a Andressinha jogar.
O restaurante do hotel é forrado por troféus, medalhas e posters da jogadora e seus pais nos contaram da dificuldade que é o esporte em nosso país, onde apenas o futebol masculino é valorizado.


A noite saímos para comer uma pizza numa lanchonete ao lado do hotel.
Os sabores das pizzas eram um sarro:
Frango: Frango, Millho, Ervilha e Queijo
Calabresa: Calabresa, Millho, Ervilha e Queijo
Strogonoffe: Carne moída, Millho, Ervilha e Queijo
Napolitana: Frango com Requeijão, Millho, Ervilha e Queijo
Resumindo, todos os sabores eram alguma coisa com Millho, Ervilha e Queijo. Mas a pizza era muito boa (ou nossa fome era muito grande!).