domingo, 18 de janeiro de 2015

Missões - Foz do Iguaçu - Parte 3

Acordamos muito bem depois da noite de descanso e tomamos aquele café da manhã delicioso do hotel enquanto batíamos um bom papo com a mãe da Andressinha!
O dia prometia ser mais um daqueles escaldante, com sol de rachar. Saímos cedo para evitar um pouco este sol forte e ainda no hotel nos informaram que teríamos de subir uma serra para chegar até Porto Xavier, cidade de fronteira com a Argentina. Serra que segundo eles, até os carros penavam pra subir.
Antes de sairmos, a dona do Hotel nos deu uma garrafa de dois litros de água congelada e como já de manhã o sol estava muito forte, dizíamos que aquela garrafa era nossa ostentação do dia (acho que o sol já começava a fazer mal pra nossas cabeças, hehehe).
Pela manhã tivemos paisagens incríveis para abrilhantar nossa pedalada. No início era a mesma estrada ruim do dia anterior, mas em poucos quilômetros chegamos a RS-392, com asfalto impecável e acostamento perfeito!







Sabíamos que estávamos perto da serra para subir, mas antes de chegar meu freio começou a fazer um barulho estranho. Era hora da primeira manutenção na bike! Trocamos as pastilhas de freio e tudo voltou ao normal!
Depois de uma longa reta avistamos a primeira placa que indicava longo trecho em aclive. Paramos para descansar um pouco antes de começar a subida, bebemos um pouco de água a partimos pra cima!
Esperávamos uma longa subida de muitos quilômetros, mas ela durou só três quilômetros e no fim acabamos dando risada da "subida que até os carros penava pra subir".
Após a subida veio uma boa descida que terminava na cidade de Porto Xavier, onde iríamos pegar uma balsa para entrarmos na Argentina.




Antes da balsa compramos alguns tomates e cebola para fazer o almoço do lado lado argentino, já que iríamos cruzar a balsa ainda pela manhã. Mas na fronteira, havia uma placa em espanhol dizendo que não era permitido cruzar com produtos de origem vegetal ou animal para a Argentina. O que acham que fizemos? Sim! Entramos ilegalmente na Argentina com produtos proibidos: uma cebola e dois tomates!
O que achamos um pouco caro foi o preço da balsa, custava R$10,00 para bicicletas e R$36,00 para carros, para fazer uma travessia que não dá metade da travessia Caiobá-Guaratuba! Mas tivemos que pagar e atravessamos!
Na alfandega argentina uma mulher extremamente chata e mal humorada nos atendeu e não se esforçou nenhum pouco pra nos ajudar a preencher a papelada. Ela era grossa e falava conosco tão rápido e tão grosseira que não entendíamos quase nada do que ela dizia. Depois de um bom tempo de nervos a flor da pele dela e da Jé, conseguimos entrar no país dos hermanos!
No início tudo era novo, placas e letreiros em espanhol, moeda diferente, custo das coisas diferente. Para mim era muito divertido estar em um lugar "estranho" mas para a Jéssica foi um pouco diferente, ela estava bastante receosa e com um pouco de medo de tudo, apesar de ela falar espanhol muito bem e muito melhor que eu!



Saindo da cidade de San Javier, começamos a procurar uma sobra para fazer almoço, mas estava difícil de encontrar. De repente passamos por um quartel do exército argentino, cheio de árvores e sombras chamativas!
Em frente ao quartel havia um tanque de guerra onde paramos para tirar umas fotos, quando do nada surge um cara com roupas militares! Era o Sargento Pires! Ele tirou fotos para nós em frente ao tanque e disse que poderíamos fazer almoço ali na sombra das árvores sim! E se alguém dissesse algo, era só falar que o Pires nos permitiu ficar ali!
Muitas pessoas passaram por ali e todos ficavam olhando com cara de curiosos, mas nenhum deles parou ou disse algo.
O sol estava fortíssimo desde a manhã, e a tarde o calor era ainda pior! Foi muito desgastante chegar à Leandro Além, e dali não iríamos passar naquele dia, pois o cansaço já batia forte!
Passamos por dois postos de gasolina e pedimos para acampar, mas nos dois o pedido nos foi negado. Algo que nunca nos aconteceu antes, pois postos de gasolina sempre tem caminhoneiros que dormem por ali e sempre somos muito bem recebidos nos postos brasileiros. Mas outro país, outra cultura.
A Jé já demonstrava muito cansaço e disse a ela pra não desanimar e ter fé que iriamos conseguir um lugar bem legal pra passar a noite! E aconteceu algo muito melhor que isso...





Nos afastamos um pouco da cidade de Leandro Além e quando encontramos uma casa parei para pedir água. Conversando um pouco mais com o dono da casa, contamos nossa história, que estávamos vindo do Brasil e iríamos para Foz do Iguaçu, que o calor estava muito forte e já estávamos bastante cansados. Então pedi a ele se havia algum lugar por ali onde poderíamos armar nossa barraca. A resposta foi a que mais gostaríamos de ouvir: "Podem montar a barraca no quintal de casa, tem um gramado ótimo ali pra vocês!"
Os donos da casa se chamavam Carlos e Norma. Eles moravam com mais um filho e a mãe de Carlos, uma senhora de uma simpatia sem igual! Ela aparentava já ter mais de 80 anos, caminhava com um pouco de dificuldade, mas fazia de tudo pela casa! Ela nos deu bolachinhas de natal que ela mesmo preparou, uma delícia sem igual! Passamos algumas horas conversando com ela sobre vários assuntos diferentes!
Carlos e Norma eram um casal muito bacana. Pudemos desfrutar de boas conversas e um ótimo mate amargo (que a Jé achou amargo demais!).
Tivemos uma noite maravilhosa de descanso, e pela manhã, mais mate amargo! Eles não tem costume de tomar café, apenas o mate! 
Pela manhã, a mãe do Carlos disse que estava triste por termos dormido na barraca, ela disse que deveríamos ter dormido dentro da casa deles. Olha que amor de pessoa aquela senhora! Tem coisas que só uma viagem de bicicleta nos faz viver mesmo!





quarta-feira, 7 de janeiro de 2015

Missões - Foz do Iguaçu - Parte 2

Depois de uma noite com uma baita chuva e ventos que pareciam que iriam levar a barraca voando, levantamos cedo, antes dos turistas chegarem, para desocupar o centro de visitantes.
Agradecemos aos vigias noturnos que nos permitiram dormir por ali e partimos para a estrada, já que a chuva tinha dado uma trégua pela manhã.





Nosso primeiro objetivo era voltar para a rodovia principal, onde havíamos pedalado no dia anterior. Eram quase 20km até a rodovia e o tempo estava fechado, mas sem chuva. Quando estávamos a uns 500 metros da rodovia, bem próximo ao portal, a chuva apareceu com uma força terrível acompanhada de uma ventania muito forte!
Corremos para debaixo do portal para se esconder da chuva e ali ficamos por um tempo. Como a chuva não parava e a cerca de 500 metros havia um posto de gasolina, decidimos colocar as capas de chuva e encara-la até o posto! 
Quando fomos colocar as capas, a Jé viu que a dela estava com o zíper quebrado. Na verdade as capas de chuva foram lavadas antes de viajarmos e provavelmente nossa cachorra Kiwi comeu o zíper da capa da Jé. Mas nada de preocupações, pois nosso instinto MacGiver brotou e resolvemos o problema com abraçadeiras de plástico.
Chegamos no posto de gasolina ensopados, mesmo com as capas de chuva!




Ficamos no posto por um longo tempo, esperando a chuva passar, mas a chuva não passava e quando ela deu uma pequena diminuída, decidimos sair com as capas de chuva. A chuva durou por muitas horas de pedalada, mas depois do calor que fez no dia anterior, era uma benção pedalar com a chuva refrescante.
Pedalamos pela rodovia principal até a cidade de São Luiz Gonzaga, onde pegamos uma estrada secundária que nos levaria até a Roque Gonzales.
A estrada era horrível! Cheia de buracos pelo asfalto e sem acostamento. Mas pelo menos o transito era moderado e quase não passavam caminhões.
Os campos de soja e milho tomavam conta da paisagem e em uma dessas plantações até roubamos algumas espigas para comer pelo caminho.





Chegamos na cidade de Roque Gonzales no fim da tarde, molhados e imundos!
Decidimos então procurar um hotelzinho barato pela cidade.
Encontramos um hotel e uma surpresa ainda nos esperava por lá.
Quando chegamos na cidade, ela parecia deserta. Quase não haviam pessoas na rua e em quase todos os lugares de comercio as pessoas estavam vendo televisão. Em pouco tempo descobrimos que estavam todos assistindo a final do campeonato de futebol feminino entre Brasil e EUA.
A meia atacante da seleção Andressinha era da cidade de Roque Gonzales e o hotel onde estávamos era dos pais da Andressinha, Adriana e Elizeu. A cidade inteira estava parada para assistir o jogo e ver a Andressinha jogar.
O restaurante do hotel é forrado por troféus, medalhas e posters da jogadora e seus pais nos contaram da dificuldade que é o esporte em nosso país, onde apenas o futebol masculino é valorizado.


A noite saímos para comer uma pizza numa lanchonete ao lado do hotel.
Os sabores das pizzas eram um sarro:
Frango: Frango, Millho, Ervilha e Queijo
Calabresa: Calabresa, Millho, Ervilha e Queijo
Strogonoffe: Carne moída, Millho, Ervilha e Queijo
Napolitana: Frango com Requeijão, Millho, Ervilha e Queijo
Resumindo, todos os sabores eram alguma coisa com Millho, Ervilha e Queijo. Mas a pizza era muito boa (ou nossa fome era muito grande!).

segunda-feira, 5 de janeiro de 2015

Missões - Foz do Iguaçu - Parte 1

Mais um período de férias do trabalho significa mais uma aventura de bike.
Um sonho que a Jéssica tinha era conhecer a usina de Itaipu (afinal está se formando na faculdade como Engenheira Eletricista) e as Cataratas do Iguaçu, então traçamos um roteiro que nos levasse até Foz. Mas como de Curitiba a Foz é menos de mil quilômetros, decidimos entrar no Paraguai, cruzar para a Argentina e percorrer toda a Rota das Missões de bike. 
Algo que sempre fazemos nas viagens de bike é sair de casa pedalando, ir até onde planejamos e voltar de ônibus, mas desta vez decidimos experimentar algo novo, ir de ônibus até o destino e pedalar até em casa.
Depois de uma semana inteira de organização, ansiedade e muita bagunça em casa pegamos o ônibus até a cidade de Santo Ângelo, onde se inicia a Rota das Missões e onde demos início a nossa aventura!


Para quem gosta de história, a Rota das Missões é um prato cheio, e basta acessar o site da Rota das Missões para se encantar com toda a riqueza cultural que possuí esta região de nosso país: 




Logo que descemos  do ônibus tratamos de montar as bikes e cair logo na estrada, afinal a ansiedade era enorme pra começar a pedalada.
Mas o primeiro dia de pedalada já começou a mostrar que o que iríamos encarar desta vez não seria nada fácil. Fazia muito calor, mas muito calor mesmo e próximo do meio dia o calor era quase insuportável. A temperatura chegou a 37 graus logo no primeiro dia, e a sensação térmica no asfalto passava do 40 graus fácil!
Nosso plano no primeiro dia era ir até São Miguel das Missões, que dava uns 60km de pedalada. Mas nós pedalávamos durante uns 5 minutos e a transpiração já era intensa, era como se em nossos rostos tivesse uma bica de água. Parávamos em cada sombra de árvore que encontrávamos e em toda casa para pedir água gelada.
Quando encontramos uma banquinha destas de beira de estrada, paramos para fazer um lanche e se hidratar um pouco. Conhecemos o Seu Nenê, um gaúcho muito simpático e de bem com a  vida que ficamos batendo um papo por longo tempo, esperando o sol baixar.



Foram 45km apenas até a entrada de São miguel das Missões, mas apesar da pouca quilometragem, a dificuldade foi imensa, pois cada subida debaixo daquele calor era bem difícil de ser superada e o desgaste com o sol era bastante evidente.
Chegando a entrada de acesso a cidade, seriam mais 20km até a mesma, então paramos mais uma vez para se hidratar, tirar umas fotos no portal da cidade e partimos pra São Miguel.
Esse trajeto era composto por muitas subidas e descidas e no meio deste trajeto havia um senhor deitado na grama, próximo ao acostamento e quando passamos por ele com as bikes carregadas ele solta um "Barbaridade". Caímos na gargalhada! Bah! Gaúcho velho!





Chegando em São Miguel, tratamos logo de arrumar um lugar pra acampar. Fomos ao parque onde se encontram as ruínas e conversamos com os seguranças se poderíamos acampar por lá e usar o banheiro da praça para tomar um banho bem refrescante! O bom destas cidades pequenas é que é fácil arrumar lugar pra acampar, e geralmente as cidades tem um praça com banheiro e chuveiros também.
Na praça conhecemos duas crianças super fofas, o Miguel, que devia ter uns 3 anos e sua irma Cristine, um pouco mais velha. O Miguel queria muito colocar o capacete na cabeça e subir na bike e tudo que ele queria a irma dele queria também. Foi uma diversão tentar fotografar o Miguel com o capacete.


Depois disto pagamos a entrada pra visitar as ruínas de São Miguel Arcanjo e entramos no parque.
Principal redução jesuítica, cuja igreja foi construída em 1745, possuía três naves com cinco altares dourados, com uma torre contendo cinco sinos. Pela sua importância histórica, foi tombada pela UNESCO, por ser considerada Patrimônio da Humanidade.
Difícil descrever com palavras a beleza da deste patrimônio, apenas visitando pessoalmente para se ter ideia mesmo. Mas pense numa construção de pedras, com mais de 30 metros de altura e sem nenhum grama de cal ou cimento, apenas pedra sobre pedra! Um verdadeira obra de arte!
Outra maravilhosa atração da cidade é o Espetáculo de Som e Luzes. Criado em 1978, pelo Governo do RS, trata-se de uma narrativa da história das Missões Jesuítico - Guarani contada através de efeitos de som e luzes. Narra em 48 minutos o nascimento, desenvolvimento e o fim da civilização criada no Rio Grande do Sul por padres jesuítas e índios guarani. Texto e roteiro de Henrique Grazziotin Gazzana e as vozes de Liam Duarte, Paulo Gracindo, Armando Bógus, Fernanda Montenegro, Maria Fernanda, Juca de Oliveira e Rolando Boldrin. 







Com a autorização dos vigias noturnos, durante a noite acampamos sobre a cobertura do centro de visitantes,pois o tempo estava fechando e um forte tempestade se aproximava. Durante a noite não deu outra, fortes rajadas de vento sopravam e um tempestade caiu sobre a cidade durante a noite. Várias vezes acordávamos a noite com a ventania, imaginando que alguma parte da barraca tivesse voado para longe! Nossa sorte foi termos armado a barraca sobre a cobertura, pois caso contrario teríamos alguns problemas com ventania e tempestade!