sexta-feira, 8 de fevereiro de 2013

CHUPIN 2012 - PARTE 7

Partimos bem cedo para aproveitar enquanto o sol ainda estava fraco. Nossa ideia era cruzar todo este trecho "desértico" até o Chui em dois dias, mas para nossa surpresa, depois de pedalarmos uns 20 km encontramos um vilarejo, com um mercadinho. Entramos no lugar, tomamos um achocolatado, comemos uns sanduíches e perguntamos para o dono se ali era mesmo uma região "desértica" como todos andavam dizendo. Ele disse que não é nada disso, que a cada 20 km tinha uma vila igual aquela e que a única coisa que não tinha era só posto de gasolina, mas lancheria, restaurante e mercado tinha bastante. E nós andando com toda aquela comida sem precisar... hehehe. 


A Estrada até o Chui é composta por retas quilométricas que parecem em alguns momentos não ter fim e muitas plantações de arroz. A estrada passa entre o oceano e a Lagoa Mirim, onde se tem acesso a uma praia de água doce lindíssima, desértica, calma e bem gostosa. Esta rodovia ainda passa pela Reserva do Taim, uma reserva ecológica com vários animais como capivaras, tartarugas, jacarés, aves de tudo que é tipo, aves migratórias... Pra quem é apaixonado por natureza o Taim é um lugar onde se passa horas admirando a fauna do nosso sul.






Como o Chui e o Uruguai são rotas dos aventureiros, passavam por nós vários grupos de motociclistas, todos buzinavam, acenavam, gritavam, era muito engraçado as vezes. Uma hora passou duas motos por nós que pararam logo em seguida para tirar fotos da gente. Eram dois senhores bem de idade, deviam ter mais de 60 anos já e eles disseram estar se formando na faculdade no curso de história e estavam viajando para o Uruguai para fazer um trabalho de pesquisa. Que disposição dos velhinhos heim!!!


Em todo este trecho pedalado até o Chuí pegamos muito vento a favor. Conseguíamos fazer média acima dos 25 km/h. E como não haviam subidas, rodamos mais de 150 km por dia. Os últimos dias foram mesmo pra glorificar a viagem, pois estávamos 17 dias na estrada e ainda estávamos com um pique muito bom!!!
Neste trecho acampamos num posto de gasolina e a Jéssica conseguiu montar pela primeira vez a barraca sozinha!!! Ficou meio torta mas ficou em pé né!!! hehehe...



No último dia faltavam apenas 80 km e fizemos este trecho em menos de 4 horas. 
Neste último dia os sentimentos estavam a mil. Cada quilômetro a menos era uma alegria por estar chegando ao destino e por estarmos completando nossa aventura, cada placa que indicava a distancia do Chui, parávamos para tirar fotos. Mas por outro lado, a aventura estava chegando ao fim. Depois de tantos dias vivendo a liberdade de viajar sem preocupações com dias ou horários, sem saber onde dormiríamos a noite, ou o que iríamos comer quando nos desse fome, infelizmente a viagem estava acabando. Depois de tantos dias vivendo e realizando um sonho, ele havia chegado ao fim.






Para não passar em branco no Uruguai e finalizar bem a viagem, devoramos um delicioso (e gigantesco) Bauru Uruguaio do Chivi Tiago!!!


"Sentimento é algo bastante pessoal, mas uma coisa nós tínhamos muito em comum ao fim da viagem: A alegria de ter realizado esta aventura e termos chegado ao destino era grande, mas olhar além da fronteira, ver o ilustre e adorado desconhecido nos chamando para desbravá-lo e ter que voltar pra trás, enche os olhos de lágrima e aperta o coração..."


Agradecemos de coração a todas as pessoas que cruzaram nosso caminho nesta viagem, e que de alguma forma contribuíram para que ela se tornasse tão especial. Seja com um lugar para acamparmos, um copo de água gelada, uma refeição ou mesmo um grito de "força" numa das intermináveis subidas.
Agradecemos a todos os amigos que em pensamento sempre estiveram conosco nesta viagem.
As nossas famílias que com aperto no peito apoiaram e acompanharam cada dia da nossa "loucura".
E claro, a Deus, por tudo ter dado certo da melhor forma possível que poderia ter acontecido!!!

segunda-feira, 4 de fevereiro de 2013

CHUPIN 2012 - PARTE 6

Deixamos Palmares do Sul rumo à Mostardas, onde pretendíamos passar o réveillon. A estrada desde Palmares do Sul era muito tranquila, tudo muito plano, quase sempre com acostumento e quase nenhum movimento de veículos.


Como o calor era muito forte, antes do meio dia paramos num quiosque beira de estrada, o Quiosque do Gaúcho para tomar aquele delicioso suco de abacaxi gelado. O dono era mesmo um verdadeiro gaúcho, andava sempre piuchado, falava grosso e com aquela pinta de machão. Ele e sua esposa eram muito divertidos e atenciosos.
Como o calor era demais próximo do meio dia, ela estendeu um colchão na varanda da casa dela para que deitássemos e ficássemos ali até o sol baixar. Aproveitamos para tirar um cochilo, porém, eu caí num sono pesado, dormi umas 4 horas seguidas quando acordei a Jéssica já não estava mais ali comigo e os cachorros do Gaúcho estavam deitados em cima das minhas pernas. E eu pensando que ela ainda estava ali... 


Saímos do quiosque umas 4 horas da tarde e com muito vento a favor. Fazendo média acima dos 20 km/h chegamos rapidamente em Mostardas e fomos procurar um Camping pra passar a noite de réveillone também porque uma forte chuva estava se formando no céu.
Encontramos um Camping bem legal, montamos acampamento e fomos fazer uma janta bem gostosa. Logo depois disso entramos na barraca e por volta das 23:30h começou um espetáculo belíssimo de raios no céu, que nunca vou esquecer!  


Depois do show de raios, por volta das 23:50, começou a chover tão forte que a barraca chegava a envergar com as rajadas de vento que batiam nela. No meio da noite coloquei a mão no chão da barraca e senti que havia água embaixo da barraca, então abri a porta para ver se havia água acumulada para poder retirar a água. Mas para minha surpresa, quando abri a porta vi que todo o camping estava alagado, com uns 4 dedos de altura de água e nossa barraca estava ilhada!!! O jeito foi cair na risada, fechar a porta e tentar voltar a dormir.


Neste mesmo camping encontramos um cara muito bacana, o Pedro Jungle! Ele havia saído de Floripa e estava indo para Bariloche de bike. Já estava a dois meses na estrada e como nós, tinha muita história pra contar. Como na manha seguinte o dia amanheceu com garoa e muito vento contra, decidimos ficar no camping e passar o dia por ali com o Pedro batendo um bom papo. Aproveitamos para ir ao mercado, compramos carne, saladas e fizemos aquele almoço caprichado!


No fim do dia curtimos um por do sol incrível, o mais lindo de toda a viagem!!! A imagem era fantástica e rendeu inúmeras fotos lindas!!!



No dia seguinte pegamos estrada todos juntos, mas como o Pedro estava com muito mais peso que nós na bike, logo ele ficou pra trás. Encontramos de novo com ele em Tavares e depois não o vimos mais. Ao Pedrão, desejamos muita paz e muito sucesso em toda a sua viagem! Foi uma prazer enorme conhecê-lo cara!!! 



Passamos ainda por Bujurú e depois São José do Norte, onde pegamos uma balsa para atravessar para a cidade de Rio Grande. Como ninguém veio cobrar nada, não pagamos nada para atravessar a balsa, hehe.



Saindo de Rio Grande passamos pela primeira placa que indicava nosso destino, o Chuí!!! Faltavam agora apenas 231 km e era só alegria!!!


Quando fomos entrar na rodovia que vai ao Chuí passamos por uma placa que indicava que o próximo abastecimento era a apenas 100 km dali. Voltamos então até um posto de gasolina e nos informaram que dali pra frente não haveria mais nada até o Chuí, que entraríamos numa estrada bem deserta. Paramos em um mercadinho e nos disseram a mesma coisa. Decidimos então comprar mantimentos e álcool pro fogareiro para uns 2 dias, pois caso acontecesse algo no meio do caminho poderíamos acampar em qualquer canto e ficar tranquilos. Também achamos por bem arrumar um lugar pra acampar por li e sair no outro dia bem cedo para vencer esses 100 km, mesmo com vento contra.


Acampamos em um camping desativado, cujo dono foi bem legal. Ele permitiu que ficássemos ali, ligou o chuveiro elétrico e a luz dos banheiros que estavam desativados a mais de um ano e ainda não quis nos cobrar nada por isto. Depois disso foi só comer um delicioso abacaxi que havíamos comprado na estrada e dormir tranquilos num camping só nosso, pra no outro dia entramos na "desértica" estrada do Chuí.



sexta-feira, 1 de fevereiro de 2013

CHUPIN 2012 - PARTE 5

Após uma noite bem dormida seguimos por poucos quilômetros de asfalto e entramos novamente nas estradas de terra, agora com destino a Cambará do Sul. O lugar pra pedalar ela lindo, passamos pelo vale das trutas, rios e muita natureza. Até uma borboleta resolveu pegar carona na minha bike.


Mas uma coisa não era nada boa neste trecho até Cambará. A estrada!!!
Ela era horrível, com pedras enormes soltas, que tínhamos que ficar desviando o tempo todo. Sem contar que em algumas subidas era quase impossível pedalar, pois a bike derrapava muito e algumas vezes tínhamos que parar a bike e se segurar pra não cair. Dava até dó dos carros que passavam por ali, de tanto que sacolejavam!!!


Quando saímos pela manhã, as bolhas do braço da Jéssica haviam desaparecido, mas menos de uma hora pedalando no sol forte e elas reapareceram. Um grave erro nosso foi não ter levado nenhuma camiseta de manga comprida pra pedalarmos no sol.
Este trecho era razoavelmente curto, iríamos pedalar uns 50 km até Cambará, então resolvemos que iríamos parar durante o meio dia, onde o sol era mais forte. Sendo assim chegamos em Cambará no meio da tarde, procuramos um Camping e fomos rápido até lá para montar nosso acampamento, pois o tempo estava começando a se fechar e pretendíamos passar dois ou três dias para conhecer todos os Cânions por ali.


Quando chegamos ao Camping  começamos a tirar as coisas da bike e a chuva despencou do céu!!! Uma tempestade!!! Tivemos que montar a barraca debaixo de muita chuva, e quando conseguimos colocá-la em pé, ela já estava cheia de água dentro!!!
Usamos todas as roupas sujas pra secar a barraca por dentro e só depois de muito empenho, conseguimos deixá-la sequinha pra podermos esticar os isolantes, e assistir a chuva cair!!!


A chuva durou todo o resto do dia e toda a noite, então aproveitamos para fazer uma comida bem gostosa e descansar bastante.
O Camping era muito gostoso, ficava em uma pousada rural, então tinha ovelhas, búfalos, patos, cavalos, tudo solto no Camping. Era muito engraçado acampar ali ouvindo os béééééé das ovelhinhas o dia inteiro.


No outro dia acordamos cedo, mesmo com tempo ruim, para ir ao Cânion Itaimbezinho. Fomos até uma agencia de turismo para nos informar sobre os Cânions de Cambará. Fomos muito bem recebidos pelo pessoal da  Cânion Turismo, onde fizemos amizades bem bacanas com o pessoal de lá!!! Eles colocaram nossa história de viagem no blog deles, tiramos fotos juntos e nos mostraram uma réplica com todos os cânions, de uns 6 metros de comprimento, bem bacana, que eles têm na agência.


Apesar do tempo continuar fechado, fomos ao Itaimbezinho para matar a vontade louca de conhecer o Cânion!!! Mas ficamos só na vontade mesmo. O tempo estava bastante fechado e pouca coisa dava para ver. Conseguimos apenas ver a cachoeira das Andorinhas, e como estávamos com capas de chuva, parecia mais que estávamos em Foz do Iguaçu, do que em Cambará do sul, hehehe.




No outro dia ainda fomos ao cânion Fortaleza, mas o tempo estava ainda pior e não conseguimos ver absolutamente nada!!! 
A temperatura que beirava os 35 graus nos dias anteriores, agora estava abaixo dos 10 graus, a chuva não parava e o vento fazia a sensação térmica ser ainda mais baixa.
Como só tínhamos uma blusa e uma calça, o jeito foi ficar entocado na barraca até o tempo melhorar pra poder sair dali. Aproveitamos esse tempo pra ir ao mercado e comprar coisas diferentes para cozinhar, como omelete, brigadeiro...



Olhamos a previsão do tempo pelo celular e ela não era nada animadora, o tempo continuaria frio, fechado e com chuva nos próximos dias. Decidimos então que não daria mais pra esperar o tempo melhorar por ali e na manhã seguinte deixaríamos Cambará conforme o estivesse o tempo e seguiríamos para a Rota do Sol sentido litoral. E na manhã seguinte, com muita tristeza, deixamos Cambará do Sul, sem conhecer nenhum Cânion de verdade... :( 


Em Cambará do Sul terminaria nossa primeira etapa da viagem, a partir de agora seguiríamos apenas por estradas asfaltadas e planas, apenas pelo litoral gaúcho até o Chui. Descemos a rota do sol com muito transito, afinal era sábado da véspera de feriado e o trânsito para o litoral era intenso. Atravessamos túneis e pontes numa descida alucinante até Terra de Areia. De lá seguimos para Arroio Teixeira, nossa primeira praia gaúcha!!!



A partir daí foram muitos quilômetros de litoral, passando pelas famosas Tramandaí, Capão da Canoa, Cidreira... As praias não são lá muito bonitas, venta demais em praticamente todas as praias.



Depois de Cidreira fomos para Palmares do Sul, passando por um túnel verde de uns 3 km, bem bonito, onde as árvores que beiram a estrada dos dois lados são deitadas para a rodovia e se fecham sobre ela, formando assim o túnel.

 

Em Palmares do Sul procuramos por um lugar para acampar. Algumas pessoas nos disseram que poderíamos acampar na beira do rio, que muitas pessoas acampam por lá. Fomos conhecer o lugar e ficamos encantados. 
Encontramos um casal de idade acampado ali, eles estavam acampados fazia uma semana e enquanto o senhor pescava todos os dias com o filho no rio a senhora fazia comida e arrumava tudo no acampamento deles. Ela tinha de tudo na barraca, fogão, panela de pressão, liquidificador...
Conversamos por um bom tempo com eles, lavamos as roupas sujas, tomamos um banho bem gelado de aguá de poço e fomos dormir.


Este foi, sem dúvida, o acampamento mais rústico que fizemos, mas foi o melhor de toda a viagem!!! Pela foto aí debaixo dá pra imaginar o porquê...